sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Escola, lugar de humanização

Talvez seja esta a melhor síntese que se possa fazer, à guiza de balanço do ano escolar que finda. As mais diversas formas de provocar o alargamento das fronteiras culturais e humanas dos estudantes - é a reflexão e a prática cotidiana de professores. Estimulam e apostam na aprendizagem da leitura e da escrita, no desenvolvimento da lógica, na reflexão e construção de alternativas sustentáveis para o meio ambiente, na construção da identidade e do pertencimento. Podemos afirmar sem medo de errar, pelo que vimos na Caravana das Boas Práticas Pedagógicas, que levou o Parlamento a circular nas escolas públicas.

Mágico e emocionante foi encontrar a literatura, a música, as artes plásticas dentro da sala de aula. Romero Britto, Van Gogh, Mario Quintana; o cinema, a robótica, a fotografia; as bandas, os jogos pedagógicos, passeios, teatro; as mostras de trabalho, hortas, os livros das produções dos alunos; a capoeira, a dança, a orquestra; as famílias envolvidas no processo de aprendizagem.

Parece óbvio que estas atividades devam estar na escola! Porém, a análise repetida por articulistas, muitas vezes reduz a riqueza dos processos educacionais que as escolas colocam em curso, à relação quadro-giz, aos conflitos professor-aluno. Com isto, induzem a sociedade a responsabilizar exclusivamente os professores pelos baixos indicadores, atenuando o impacto dos aspectos estruturais e sociais que neles interferem.

Encontramos a pesquisa, a docência compartilhada, a Matemática aplicada; a escola pública fazendo rupturas com o modelo que ensinava a todos igualmente, lógica que privilegiava os já privilegiados, que naturalizava o fracasso de muitos! Imbuída de sua função de garantir o direito à educação a todos, insiste com a inclusão, perseguindo o desenvolvimento de cada aluno, na sua singularidade; investe nas relações solidárias, na aprendizagem com o outro, no avanço coletivo dos grupos. Insiste em resgatar os que faltam muito à aula, em valorizar os pequenos esforços, em alcançar as melhores experiências, mesmo que o esgoto esteja a céu aberto na porta da escola, que o muro não exista, que os funcionários para limpeza sejam poucos ou que a biblioteca não tenha quem abra e coordene. Reinventa os estímulos à aprendizagem, mesmo com pouco tempo para a formação e o planejamento, mesmo com salários baixos.

Diferente do que muitos acham, as escolas estão abertas à reflexão e à mudança, são inquietas e corajosas. Movem-se por desafios e debates pedagógicos!

As sementes e brotos de uma escola emancipatória e de qualidade estão aí, é tratar de fazê-las crescer, com investimento e diálogo!

Então, que sejam boas, as merecidas férias!

Sofia Cavedon, vereadora/PT e presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre.


23 de dezembro de 2011.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O mapa que a democracia desenha

Olho o Mapa da cidade como quem examinasse a anatomia de um corpo.
Sinto uma dor infinita, nas ruas de Porto Alegre, onde jamais passarei”  Mario Quintana

Em 2011 palmilhamos esta cidade, imbuídos que estávamos da convicção de que, mais que examinar o Mapa, tínhamos que tocar as nervuras deste corpo chamado cidade, se queríamos mais do que fazer Leis, transformá-las em Direitos! E, nas mais inusitadas situações, revelamos muito da tão humana condição de resistência, de resignação, de indignação, de fibra e luta! Se o poeta, só de examinar sentiu uma dor infinita, no tocar rostos, braços, ouvir as falas, sentir os odores, ver os em espaços tão precários, impensáveis para a dignidade humana, quase que experimentamos esta dor!

A vida no meio do lixo, a água que não corre na torneira, os ratos que atormentam as noites, a luz que não se mantém e mata, o esgoto que invade as casas, as casas cheias de frestas para o frio, de frestas para os mosquitos, para as baratas, para o medo; a noite passada na fila do posto de saúde, as horas passadas no aperto dos ônibus, a convivência com a violência, o cansaço das mulheres, a infindável alegria das crianças – tudo ali, nas linhas do mapa, antes notícia, casos isolados, hoje parte de uma tessitura muito maior e complexa que imaginamos!

Chegamos ao final do ano impactados, encharcados de urgência, com o nosso Mapa transformado pela antes não dimensionada, deformação e adoecimento deste corpo, mas tocados pela surpreendente teimosia da vida!

A responsabilidade de ocupar o espaço de representação deste povo ficou muito mais densa diante deste novo traçado e pintura da cidade de Porto Alegre! E muito mais desafiadora.

A consciência da injustiça torna mais urgente a tarefa de compreender e enfrentar os instrumentos  que mantém a desigualdade. Nos impõe mobilizar consciências, mudar culturas e prioridades, desacomodar modos de gestão, repensar as políticas públicas.

O que seria a Democracia, não fora isto: o poder exercido para a dignidade humana, em nome principalmente de quem ainda não a tem? A democracia, afirma Marilena Chauí, se apoia na noção de direito, não de privilégio. É o processo político de criação de direitos, opera, portanto, de forma aberta e permeável.

Uma Câmara aberta e permeável, que reconhece o conflito, constitutivo da democracia, que dele gesta os direitos, é a Câmara que procuramos instituir. É o Parlamento, tantas vezes fechado pelo estado autoritário, devolvendo à cidade o poder de transformar seu mapa! Feliz cidade em 2012!

Sofia Cavedon – Vereadora/PT e Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre


Porto Alegre, 20 de dezembro de 2011.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Reinvente em 2012!

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
e a outra a tudo o que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.”
Fernando Pessoa

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta

Como Pessoa, pergunto qual é a história do Menino Jesus de cada um de nós?

Em 2011 palmilhamos esta cidade, nas mais inusitadas situações,
revelamos muito da tão humana condição de resistência,
de resignação, de indignação, de fibra e luta!
Rostos, corpos, falas, em espaços tão precários, impensáveis para a dignidade humana!
A vida no meio do lixo, a água que não corre na torneira, os ratos que atormentam as noites, a luz que não se mantém e mata, o esgoto que invade as casas, as casas cheias de frestas para o frio, de frestas para os mosquitos, as baratas, para o medo; a noite passada na fila do posto de saúde, a convivência com a violência, o cansaço das mulheres, a infindável alegria das crianças.
Chegamos ao final do ano impactados, encharcados de urgência,
transformados pela improvável, mas real teimosia da vida!
A consciência da injustiça nos torna mais urgente a tarefa de compreender e enfrentar os instrumentos que mantém a desigualdade. Nos impõe mobilizar consciências e massas!

É este Jesus indignado e solidário,
que desejamos que cada um celebre
e reinvente em 2012!

Sofia Cavedon - Vereadora/PT

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