sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Bisol: professor é quem faz o ser humano acreditar em si

93ª SESSÃO ORDINÁRIA 13/10/2010

(Texto sujeito a alterações, devido à revisão do orador.)

Palestra do Professor José Paulo Bisol durante o período de Comunicações.

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): Hoje, este período é destinado à palestra do Professor José Paulo Bisol, sobre o tema “O Professor e a Educação”. Convidamos o Sr. José Paulo Bisol para compor a Mesa.

O Sr. José Paulo Bisol está com a palavra para falar sobre o tema: O Professor e a Educação.

O SR. JOSÉ PAULO BISOL: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Nelcir Tessaro; Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras, autoridades presentes, meus senhores e minhas senhoras, eis-me aqui, com a sensação de um fantasma, como se eu emergisse das sombras, do esquecimento, da marginalidade, e me encontrasse, de repente, até com certa surpresa, perante um microfone, outra vez, a falar.

Não posso deixar, desta vez, de falar, realmente, como um fantasma. Lacan insiste muito na ideia de que, via de regra, as pessoas morrem duas vezes: morrem simbolicamente e morrem ao morrer, morrem ao ir embora, ao desaparecer, ao dissolver-se no infinito. Lacan diz que há uma vida estranha, diferente entre as duas mortes, entre a morte simbólica e a morte chamada assim de real. Ele cita o caso de Napoleão, que, quando esteve na ilha, já estava simbolicamente morto e tentou viver de novo, mas a vida não era mais a mesma coisa. A vida era uma vida de fantasma, o fantasma de Napoleão. Eu sou, sem tristeza nenhuma, afirmo isso, um fantasma. Eu morri simbolicamente. Se vocês não testemunharam isso, foi porque não quiseram testemunhar. Eu fui objeto de destruição explícita, clara. Se vocês não lembram disso é porque não tinha importância, mesmo. Mas a posição de um homem que falava, de um homem que discutia, de um homem que queria escavar e encontrar a verdade, de um homem que sabia que a verdade não se dá com facilidade, de um homem que sabia que não se apanha nunca a verdade inteira, de um homem que sabe que isto não pode esgotar-se jamais - esse esforço para buscar um pouco mais de verdade -, esse homem acabou, a mídia o destruiu. E ele saiu, morreu simbolicamente.

A Sofia, de repente, me telefona e diz: “Nós, os professores, gostaríamos que voltasses a falar.” Quero dizer aos professores que eu só estou aqui, neste momento, porque foram os professores que me convidaram. Para mim, a figura do professor é crucialmente central. Para mim, a figura do professor não é apenas a figura do mestre, daquele que sabe, daquele que transfere o saber. Para mim, a figura do professor é a daquele que faz o ser humano acreditar em si mesmo, ensinar a ser si mesmo, ensinar a ser gente, contribuir com a formação de um ser humano aberto, capaz de ousadias, de aventuras, mas com talento para a fidelidade. Esse professor é o criador da vida, é o criador da relação, ele está ali para fazer emergir a verdade. E a verdade é o desiderato mais difícil do ser humano.

Eu estou acostumado a ouvir e vejo que as pessoas, normalmente, quando falam, falam com a convicção de que estão dizendo a verdade, o que, aliás, é um bom sinal. Mas percebo também que raramente a pessoa se dá conta de que ela não é absoluta. É tão estranho dizer isto, mas o absoluto nos infernaliza a vida, o absoluto nos esmaga, o absoluto nos humilha, o absoluto nos marginaliza. E, nas horas cruciais da existência, os donos da palavra, os donos do absoluto acabam impondo. Um dos absolutos com os quais nós convivemos diariamente é a mídia. Você vive a sua vida particular, com seus ideais, fazendo seus esforços, alimentando suas crenças, tentando ser cada vez mais claro para você mesmo e para os outros, mas, se alguém na mídia resolve dizer algo a seu respeito, verdade ou não verdade - prestem bem atenção -, não há defesa possível! Então, eu ouço, por exemplo, um jornalista - quase que diariamente vocês podem ver isso - ir ao microfone de sua emissora e dizer: “Eu sou imparcial.” Em futebol isso é diário! A pessoa é supergremista ou supercolorada, mas vai lá, aperta um botão e diz: “Eu sou imparcial.” Aperta outro botão: “Bom, volto a ser normal.”

Ultimamente, um conhecido colunista gaúcho foi ao microfone - ele não faz mais esporte, mas iniciou a sua carreira fazendo esporte - e contou, lembrou dos tempos em que ele fazia esporte e, no final, ele disse: “Agora eu posso dizer que sou colorado. Pois, então, eu sou colorado!”

A pergunta que eu faço é a seguinte: quem é que, gostando de esporte, no Rio Grande do Sul, não sabia que ele era colorado? Gente, é possível apertar um botão e, a partir daí, ser imparcial? Mas a pergunta não simplificada é esta: existe metalinguagem? Existe uma linguagem sobre a qual eu me torne capaz de decidir com absoluta neutralidade qualquer coisa? Olha, eu fui juiz, foram trinta anos de existência de juiz, e sempre senti humanamente alguma coisa em relação às causas. Quer dizer, não era a minha razão, havia alguma coisa em meu ser que se inclinava, ab initio, para uma determinada decisão. E eu, para ser imparcial, tinha que fazer a revisão disso, examinar profundamente e buscar a imparcialidade. Ou seja, em cada sentença você tem de conquistar a imparcialidade, simplesmente porque o ser humano é um ser relativo, simplesmente, porque nós somos divididos – e aqui eu volto a Lacan. Desde que Freud trouxe a sua lição para o mundo e nos transferiu os conhecimentos que conquistou, nós sabemos que cada um de nós é um ser que lida conscientemente com as coisas e que lida inconscientemente. Ou seja, o inconsciente existe, não existe? Você, que está me ouvindo, não tem inconsciente? Você tem um controle absoluto sobre o seu inconsciente? Pelo menos, deixem relembrar isso.

A gente nasce completamente sem qualquer consciência. A gente passa os primeiros meses completamente na inconsciência. Nós somos seres radicalmente inconscientes nos primeiros meses de vida. Tanto que os analistas hoje examinam isso. No tempo de Freud, se dizia que o bebê tinha uma relação com a mãe como um ser total. Até que surgiu Abraham e disse que a criança, o infante não tem relação com a mãe, nem com o pai, nem com ninguém. O infante tem relação com partes dos outros: tem relação com o seio, tem relação com a voz, tem relação com o cheiro e com todos esses objetos, que eles chamam de objetos parciais. Mas não tem uma relação com a mãe como um todo, porque não tem, ainda não formou sequer o esboço, sequer o início de sua consciência, isto é, não tem aptidão para apanhar uma totalidade. Não é porque ela é infeliz, não é porque ela é errada, doente; é porque ela é um bebê. Simplesmente é assim. E, quando começávamos a estudar essas questões, víamos que, aos pouquinhos, a criança se desenvolve e fica apta para apanhar o ser integral da mãe, depois, do pai, etc.

Eu estou dizendo tudo isso para insistir numa coisa em que, raramente, nós pensamos: que nós somos, também, inconscientes. Nós não somos só esse ser consciente que imaginamos. Nós somos também, e de uma forma decisiva, um ser inconsciente, com forças que atuam fora de nosso controle.

Então, o bebê, segundo Karl Abraham, vai se fixando em objetos parciais. Tanto que, depois, se consagrou na psicanálise a ideia da evolução da morfologia perversa da criança nos primeiros meses. Ou seja, a criança, o infante, até um ano e pouco, digamos que nos primeiros meses de vida, desenvolve sensibilidades. A expressão que mais me pareceu correta é que ela desenvolve sombras mnésicas. Essas sombras mnésicas de momentos que lhe deram prazer, de momentos que lhe deram conforto, gosto de estar ali, são revividas sempre que elas entram em tensão.

Então, não é verdade, disseram os psicanalistas depois de Abraham, não é verdade que a criança, de repente, amadurece e vê a mãe como um todo, o pai como um todo. A verdade é que ela cria, dentro de si, uma espécie de objeto transcendente. É esquisito dizer isso, porque a versão que estou dando é bem materialista. Mas é uma espécie de objeto transcendente, quer dizer, essas sombras mnésicas que lhe deram prazer, alegria de estar viva, revivem cada vez que ela precisa se sentir melhor. E essas sombras mnésicas vão se desenvolvendo de tal forma que a criança se fixa não nos fatos que geraram os momentos prazerosos que deram razão de ser às sombras mnésicas, ela se fixa no tipo de relação que gerou essas sombras mnésicas. Então, ela vai reproduzir uma forma de relação em cada caso - como angústia, para resolver as suas angústias -, dependendo do prazer que ela está procurando.

Segundo Lacan, nós aí acabamos por formar o que ele chama, estranhamente, de objeto pequeno a, objeto a minúsculo. Por que ele chama assim? Ele chama assim, porque essa dimensão do ser humano, essa dimensão do inconsciente é inacessível do ponto de vista da simbolização, da razão. A razão não alcança, mas ela tem consequências extraordinárias na nossa vida, porque, depois, cada homem vai procurar um certo tipo de mulher, e cada mulher vai procurar um certo tipo de homem que seja apto, por suas particularidades, a provocar essas instâncias mnésicas de prazer. Ou seja, este objeto - objeto no sentido psicanalítico – que está dentro de nós e que não é nós, que vem de fora, que é um sistema de relações que aconteceram num período inconsciente de nossa vida, acaba sendo definitivo para a nossa existência, porque é a partir dele que nós vamos amar, odiar e outras coisas.

Então, eu insisto nesse detalhe - não quero forçar nenhuma interpretação, eu sei que não é fácil para quem não está habituado -, para que nós comecemos a pensar assim: eu sou um ser razoavelmente consciente. E isso é muito bom! Isto é, eu sou um ser capaz de pensar, eu sou um ser capaz de decidir. Tudo isso está certo. Mas até onde você decide? Você está vendo se é verdade o que eu acabo de simplificar? Você está vendo que a sua escolha amorosa está dependendo de um período de existência em que você não tinha a menor consciência? Eu estou simplificando, porque, se eu entrar ainda na questão dos traumas que ocorrem, pelo menos, no período inicial da existência, aí isso fica bem mais complicado. Mas a minha insistência é porque eu estou aqui conversando com os professores. Professor é fantástico, porque não se trata de transferir racionalidade. Transferir racionalidade é muito pouco! Mas muito pouco mesmo! Geralmente, os grandes homens maldosos da história humana foram rigorosamente racionais. E, se vocês leram Sade, vocês sabem que ele não é brincadeira não! Embora não tivesse nem talento para escrever, as verdades que ele desnuda são terríveis, dramáticas, dolorosas.

Então, é sobre isso que eu quero chamar a atenção: é que ninguém é dono de metalinguagem nenhuma. Você é daquelas pessoas que chega em casa e diz: “Aqui está a verdade!”? Ou que tem repentes e diz: “Não quero ouvir mais nada, chega, a verdade é esta!”? Ou, se você vive como se fosse um frequentador da verdade, eu vou dizer sinceramente para você - preparem uma vaia colossal: “Você está enganado! Você está redondamente enganado!”

E eu vou dizer mais. Essa paixão que a gente vê, por exemplo, na mídia brasileira: “Eu dito a verdade!”. É só ligar a televisão que você vê. Você vai, por exemplo, perceber... Eu percebi isso há poucos dias, porque ia haver o Campeonato do Mundo, aí eu resolvi comprar a tal de HD. Agora eu quero devolver a HD, porque eu não estou aí para aguentar as idiotices e as vulgaridades americanas da manhã até a noite. Nós compramos o que há de mais vagabundo nos Estados Unidos, porque os Estados Unidos sabem fazer filmes, só que esses filmes raramente passam ali; eles passam aqueles com água e açúcar, para vulgarizar você, para tornar você bem inconsciente de sua inconsciência. Você liga: “Eu quero ouvir música italiana”. Duvido você achar na tal HD! Bom, eu quero ver um filme com um certo valor artístico; de vez em quando aparece um Marlon Brando ou coisa assim. Mas, normalmente, você liga e você vê só superficialidade. E você fica colonizado. Você! O rei da metalinguagem! O rei da verdade! O desassombrado herói das palavras definitivas! Você engole aquela porcaria diariamente. É colonizado! É orientado a ter sentimentos pequenos! Começa a gostar de coisas insignificantes.

Eu digo: o que é um professor? Um professor, no meu simples entendimento, é aquele que diz assim: “Meu filho, não existe metalinguagem”. “Ah, mas a Bíblia, a Revelação, etc.” Não existe metalinguagem! E você tem que, primeiro, ter a liberdade de crer. Você quer crer em Deus? Assuma a sua liberdade e creia. Você quer crer nesta religião e não naquela? Assuma, creia; é do ser humano, é um direito seu. E nós outros temos que morrer para defender esse direito. Agora, se você é religioso e quer interferir na minha e quer impor a sua crença? Um cretino, é isso. Não há por que escolher as palavras. Você tem o sagrado direito da crença. Você nasce árabe, você tem a crença muçulmana; você aprende que matar uma multiplicidade de pessoas inocentes, crianças, mulheres, trabalhadores, boa gente, em nome de Deus... Você aprendeu isso, sua religião lhe ensinou que, se você matar em nome de Deus, você vai para o paraíso com trinta mulheres - ainda tem esse absurdo no meio -, com trinta mulheres a seu gosto, isto é, mulheres que são ao gosto de cada um é porque são prostitutas, mas é o que oferecem a eles. É duro dizer, não é, gente? É duro dizer isso. “Ah, mas os muçulmanos!” Na Idade Média, a Igreja Católica matou milhares de inocentes na fogueira com a maior frieza, porque eles eram donos da metalinguagem, porque eles não tinham tido bons professores. Os professores não apareceram e disseram: “Meu filho, não existe metalinguagem. Seja mais generoso, você tem direito à crença, creia; você tem direito ao ritual, pratique o ritual; você tem direito a discutir, a defender a sua ideia religiosa; defenda, pratique, estou aí para estimular isso aí!”

No momento em que você quer interferir na minha liberdade de crer, me desculpe, nesse momento você me revela que não é quem quer parecer; nesse momento você me revela que não teve bons professores; nesse momento você me revela que acha que existe metalinguagem e que você é o homem da metalinguagem, que quando você fala tudo é claro, racional. A racionalidade humana é limitada. O eu - para usar uma expressão praticamente fora de moda - é uma série de identificações. Quando você tinha quinze anos você era o eu, esse mesmo eu? Quando você tinha dez, vinte anos, você era o mesmo eu? Não, você fez uma série de identificações; você foi - graças a Deus, aliás - mudando, porque o eu não existe a não ser na imaginação. E o ser humano, para ser sujeito, tem que ingressar numa dimensão realizadora da vida; só viver não faz do ser humano um ser sujeito. Por quê? Porque eu preciso, por exemplo, encontrar uma relação afetiva, amorosa, escolher uma pessoa para viver comigo de uma forma tão correta, tão exigente, porque eu faço uma escolha e, depois, tenho que passar a vida inteira - prestem bem atenção ao que eu estou dizendo, porque eu não vou retirar, e vocês têm o direito de me vaiar -, vocês vão ter que lutar a vida inteira para manter essa relação. Porque vocês vão estar à beira da bofetada, do pontapé, milhares de vezes! E, se vocês não perceberam isso até agora, podem estar certos, não vão perceber mais nada. Ou seja, você tem que reconstruir sua relação afetiva com carinho e devoção, gostar dela para recriá-la dia a dia.

E eu vou dizer outra coisa escandalosa para vocês: nem a relação sexual é completa. Deveria ser, porque é a única relação com o outro em que a gente coloca a materialidade do corpo, além das tendências, inclinações, conscientes e inconscientes. Essa relação seria paradigmática! Seria “a” grande relação humana. Mas todos nós sabemos que ela é incompleta, difícil. Eu vejo aí os galãs, os dom-juans, os conquistadores se glorificarem por suas aventuras. Eu fico olhando: “Que desgraçado, como deve ter sofrido!” É difícil! A relação homem e mulher é difícil! O desencontro é quase que certo. É claro, o desejo acoberta a verdadeira situação.

Então, o que eu estou querendo dizer é que ser professor não é tão simples assim. “Ah, vou te ensinar inglês, matemática. Vou te ensinar a pensar!” Opa! Pensar? Como é que eu estou acostumado a pensar?

O que vale um professor! O que vale um professor de verdade! Vocês podem ouvir um radialista dizer: “Eu sou imparcial, eu tenho a metalinguagem”. Tudo bem! Mas vocês não veem um Hegel dizer isso, vocês não veem um Jacques Maritain, pensador cristão, dizer isso, vocês não veem uma grande pessoa, capaz de trabalhar com a cabeça, afirmar isso. Todos os autores que vocês lerem, que forem bons autores, vão dizer para vocês: “Você é um ser relativo. Nada é completo em você”. Repito: nada é completo em mim e nunca foi, e nada é completo em você. E, se fosse completo, estaria na hora de morrer, não é verdade? Estou completo, estou pronto. Não, você vai ter que lutar até o último dia.

É nesse sentido que eu gostaria de vir aqui e ser capaz de cantar o sentido vibrátil, generoso, criador do status de professor. Professor é isso, é para criar essa coisa difícil que se chama verdade, é para me dizer: “Olha, Bisol, tu gostas muito de ler, mas tu vais ler até a morte e não vais aprender tudo, nem perto de tudo”. E só alcança a verdade por pedaços, como qualquer outro. Nós temos que ser suficientemente comunitários, aprender a nos querer bem, a nos amar, para sabermos isso e nos completarmos, porque, na hora em que surge o excesso de poder, por exemplo, politicamente, vocês podem prestar atenção, detrás desse excesso de poder está um saber mentiroso, um saber falso. Detrás de um Hitler existe uma grande mentira, um grande não saber, e é justamente por esse não saber que a metalinguagem não existe. Os seres humanos seriam muito melhores se não fosse essa pretensão de metalinguagem. Se você não estivesse cercado por pessoas oniscientes, se você não estivesse cercado por pessoas que se acham capazes de tudo, você viveria num mundo melhor. E eu sinto aqui, olhando humildemente para vocês, que vocês sabem do que eu estou falando. Todo mundo sabe, mas, não sei por que, chega lá fora e diz: “O meu credo é o melhor; o meu Deus é o melhor; a minha verdade é a mais verdadeira; os outros são enganados, eu não; e eu estou aí para impor!” E o resultado disso tudo é que a democracia, por exemplo, fica uma coisa tremendamente pobre. Eu vou dizer uma coisa para vocês sem receio nenhum - não vou mencionar lados, porque não é isso que me interessa: essa eleição brasileira é uma vergonha para a nossa democracia. A democracia brasileira está num mau momento! É uma eleição sem respeito recíproco, é uma eleição sem grandeza e é uma eleição que desconforta as pessoas. As pessoas se sentem inconfortáveis com esse tipo de luta, pois o que é que nós queremos com esse tipo de luta, com esse vale-tudo, com esse jogo? Esse é o jogo da subliminalidade. Você liga um aparelho e você sente subliminarmente para quem eles estão trabalhando, e a coisa perde o sentido. O que mais nos falta? É isso o que eu quero dizer para vocês. Antigamente eu falava de uma forma diferente. Eu tinha a minha doutrina, a minha concepção do mundo e a defendia; procurava ser menos crítico, menos amargo. Mas estou fazendo, daqui a alguns dias, 82 anos de idade. Pode ser que eu tenha que curtir no inferno algumas mentiras, mas nenhuma foi cometida hoje neste plenário! Não menti para vocês. Vim aqui para abrir meu coração e dizer que sou um apaixonado pelo Estatuto do Professor, este ser humano criador de justiça, criador de equilíbrio, criador de sentido, porque o sentido não cai do céu! Vocês sabem disso! A gente tem que criar o sentido.

E o professor não é este ser que induz a ir a determinado caminho; é este ser que nos mostra como ser mais consciente do que inconsciente, mais generosos, mais capazes de admirar, de querer bem; sermos mais críticos, mais exigentes. Que nos ensine a querer a democracia de verdade, a democracia do debate claro, a democracia da exposição das ideias, da defesa das ideias, a democracia da verdade pessoal de cada um; a democracia daqueles que tiveram, na sua vida, um patrocinador, um orientador, um homem com dignidade: um professor. Parabéns, professor! (Palmas.)

(Não revisado pelo orador.)

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